- Você vem sempre aqui? - Ele perguntou como se já não soubesse, afinal o que ele iria dizer? Oi, faz duas semanas que estou te seguindo até esta loja de doces pra te chamar pra sair, mas só hoje tomei coragem.
- Sim - Ela respondeu envergonhada - Adoro os chocolates daqui - complementou, como se precisasse dar a ele uma explicação para está ali.
Ele demorou a responder, era como se estivesse arquitetando na cabeça alguma resposta interessante, pois já havia esquecido as que treinou em frente ao espelho alguns minutos antes de sair de casa. Então ela continuou. - E você, também gosta de chocolates? - Ela o pegou de surpresa, ele respondeu sem pensar - Sim, sim eu gosto muito de chocolate – Falou tão rápido que ela quase não conseguiu entender. Ela riu.
Silêncio outra vez, mas desta vez ele não perecia está formulando uma frase. Estava parado, com o olhar fixo nela, como quem adimira uma paissagem e ela realmente era linda, tinha os olhos da cor de mel, a pele tão branca que parecia de porcelana e cabelos negros cobrindo-lhe os ombros.
- Cof... cof! - Tossiu a vendedora na intenção de mostra-los que a fila do caixa aumentava enquanto eles estavam ali parados olhando um para o outro. Ela ficou sem graça, seu rosto pálido agora estava vermelho. Pagou os chocolates e já estava caminhando em direção a porta quando se lembrou que não sabia o nome dele.
- Você não me disse seu nome.
- Oh, sim... me desculpe me nome é Tales. E você como se chama? - Mas ele já sabia, àlias sabia muita coisa além do nome dela.
- Meu nome é Leticia - Ele sorriu. Ela também sorriu de volta, tinha um sorriso encantador. E como se tivesse tomado um susto ao olhar o rélogio ela disse:
- Preciso ir, até mais!
- Posso acompanhar você?
- Mas não vai comprar seu chocolate?
- Ah é, os chocolates!
Aquela era a hora ideal para ele dizer que não gostava nem um pouco de chocolates, mas ia lá todos os dias porque sabia que a encontraria. Que só estava ali porque a amava em silencio, e não esperava a hora de poder dizer tudo isso a ela. Então ele se virou com a mesma pressa de uma criança que vai embora de um parque de diversões minutos depois de ter chegado e entrou na loja enquanto escutava os passos dela se afastastando lentamente.
Mentiras e chocolate
Status não levam a lugar algum
Eu estava na 5ª série, queria ser chefe de classe e uma outra menina da classe também, ela ganhou a votação e eu fiquei em segundo lugar. Eu não sabia, mas começava aí a nossa rivalidade. Na 6ª série eu queria representar a sala no desfile de Halloowen da escola e escolheram ela por ser mais bonita. Em um dos campeonatos de volei anuais meu time chegou na final e o dela também, eles ganharam o campeonato por 2 setes a 1, e nós ficamos com as medalhas de prata. Na 7ª série eu gostava do mesmo menino que ela, adivinha quem conseguiu ficar com ele...
sim ela! A unica coisa que eu conquistei foi a amizade dele. Na 8ª série nós mudamos de sala eu fui pra sala B e ela pra A (mais uma vez na minha frente), no ano seguinte eu me mudei de escola, e embrora isso não importasse tanto assim eu fiquei feliz por não ter que perder mais nada pra ela. Esses dias (quase cinco anos depois) um amigo meu da antiga escola me convidou para um churrasco no sítio dele, quando cheguei lá encontrei quase todo mundo que estudou comigo da 5ª à 8ª série. Foi legal ver como algumas pessoas mudaram, como algumas parecem que nunca vão mudar, como umas pessoas estão mais cultas, como outras parecem nunca ter saido da quinta série, fiquei espantada ao ver como os “nerds” que eu adorava ignorar estavam bonitos e interessantes... Ela estava lá, a comprimentei como tinha comprimentado todo mundo, e a sensação que tive é que tivesse terminado ali a nossa rivalidade, isso até ela me desafiar para uma partida de futebol. O time dela contra o meu (que por enquanto era só eu), aceitei e me aprecei em montar um time. Começa o jogo, eu marcava ela, primeiro gol, o nosso ! Um a zero pra gente, começei com sorte. Final do primeiro tempo, intervalo. Ela parecia mais nervosa que técnico de seleção em final de copa do mundo, chamava a atenção das jodadoras, falava o que elas tinham que fazer no segundo tempo, eu até faria isso se eu e o meu time não estivessemos ocupadas admirando o sexo masculino jogando no campo de baixo. Começa o segundo tempo e mais um gol, dois a zero pra gente até me dei a liberdade de ser otimista “Séra que pela primeira vez na vida eu vou conseguir vencer ela.” pensei. Logo elas reagiram e fizeram o primeiro gol, alguns minutos depois elas empataram e já no final conseguiram fazer mais um gol. Fim de jogo, três a dois pra ela. Ganhou de mim mais uma vez, o meu time se separou, tristes, perdemos, né? Do time dela cada uma foi pra um lado, exasltas. Meus amigos me pegaram no colo e fomos “comemorar” a minha derrota na piscina. Ela sentou numa cadeira em frente a piscina e, sozinha, comemorou em silêncio a sua vitória enquanto olhava a gente se divertir.
Moral da história: As pessoas são tão competitivas que esquecem que a felicidade não está em vencer. Ela se empenhou tanto em ser melhor em tudo que nem teve tempo de fazer amigos e eu que sempre fiquei em “segundo lugar no pódium” me considero a pessoa mais feliz do mundo porque tenho os melhores amigos que alguém poderia querer.
O “EU TE AMO” desperdiçado
Eu estava na 5ª série e me achava muito esperta e madura. Na minha vida havia um amigo muito bonito e inteligente. Eu sabia que ele era louco pela Debora desde antes de me conhecer, mas não hesitei diante da vontade de mostrar o quanto meus sentimentos por ele estavam crescendo. Escrevi um simples “EU TE AMO” num pedacinho de papel e coloquei na mesa dele no meio de uma aula. Ele abriu, pensou e me disse baixinho: “não vai dar!”. Eu não fiquei triste. É sério. Fiquei mais preocupada em fingir que nada havia acontecido. Eu sabia o quanto ele gostava da Debora, mas insisti em desperdiçar o “EU TE AMO”. Felizmente, percebi que meu sentimento não era amor. Se até uma criança da 5ª série conseguiu descobrir, antes mesmo de amar de verdade, que não se deve desperdiçar algo tão bonito quanto um “EU TE AMO”, não seja boba você aí! Duas coisas que não se desperdiçam: água e “EU TE AMO”.